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sábado, abril 26, 2008

A aldeia

Ensaio a grafite do casario de uma aldeia portuguesa
Autoria - Outono - 1978


Encostado à fonte centenária de água fria com saúde brilhante, depois de salpicar o rosto acariciado pelo sol, escrevo a memória do dia:

***
Na aldeia da minha árvore,
encontro a calma da luz necessidade...
para ouvir o silêncio suspenso...
do meu respirar faminto de luz!

in - "Poemas" (OUTONO) 1999


sexta-feira, abril 25, 2008

UM AMOR FELIZ


Pintura a óleo de Francisco Simões
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Por vezes, e por motivos profissionais , ausento-me do meu país.
Nestes momentos, procuro e por necessidade pessoal e emocional, descontrair um pouco, face às mudanças pessoais, geográficas e até climatéricas.
É assim, que uma boa leitura ajuda, e até recorda bons momentos passados, na primeira leitura de uma obra.
Este livro do grande mestre David Mourão-Ferreira, de título UM AMOR FELIZ, foi-me oferecido em 1990. Já o li três vezes, e nunca me arrependo de o fazer.
Este romance, de que destaco a pintura a óleo de Francisco Simões - capa do livro citado, foi:
- Prémio de Narrativa do Pen Clube Português
- Prémio D. Dinis da Fundação da Casa de Mateus
- Prémio de Ficção do Município de Lisboa
- Grande Prémio de Romance da Associação Portuguesa de Escritores
Desta leitura, que recomendo, destaco um poema lindíssimo, sem título, o qual não reproduzo na totalidade e, com a devida vénia, destaco a ousadia amendoada deste escritor do amor, que marcou e marca, muitas das mensagens de sonho, de quem ama a escrita.
*********

A manhã nunca pede
mais que um par de sandálias;
mas a noite da véspera
conserva os seus collants.
Não me espanta o mau gosto
com que aVida se veste,
se as manhãs e as noites
morrem longe de ti.
***


É só ao fim da tarde
que te surjo descalça.
Só então autorizas
o meu número de circo;
ajoelhar a boca
No centro do teu corpo,
regular com os lábios
a chama de uma vela.
***

Juras que nos meus braços
vives em pleno Verão;
que se mede em segundos
o pulso à Eternidade;
que a sombra te embriaga
muito mais que a luz;
que os acasos te exaltam,
o futuro nem tanto.
***


Descreves-me Veneza
neste quarto alugado
sem porta para a escada
nem vista sobre o rio.
Desprezas os alarves
que alarves nos governam,
mas nem sabes que rumo
darás à tua vida.
***
Fazes parte integrante
de oitenta comissões,
Todas de natureza
deveras cultural.
Nunca tens a coragem
de saber dizer não
para ao menos passares
mais minutos comigo.
***


O teu sentido prático
há-de impor-te o confronto
dos nossos dois horóscopos.
Por agora entreténs-te
a ver no Universo,
uma cópia indecisa
dos vários hemisférios
que existem no meu corpo.
***

Finjo crer na hipótese
de ir contigo a Veneza;
contento-me, no fundo,
se puder ser a Óbidos.
Nem em Óbidos falo ;
Falo apenas na Lua,
para te ser mais fácil
dizer que é impossível.
***


Descansa que não quero
roubar-te aos teus deveres;
muito menos dar cabo
do que se chama um lar.
Só te peço que tragas
Veneza para perto
desta fome que tenho
de ser a tua gôndola.
***

Mas vou cingir-me, juro,
a pedir-te que emendes
aí atrás uns versos
que devem ser errados.
Sei como és competente
nestas questões de métrica.
Sei que vais sugerir-me
dispor tudo em oitavas.
***


Ajoelharei a boca
no centro do teu corpo;
ficarão alguns versos
bem mais teus do que meus,
decerto por efeito
do sémen que recolho.
Martelarás o ritmo
nos nós das minhas vértebras.


***

Pedir mais? É de mais.
Veneza, no entanto,
vive sem nós lá estarmos;
e, pior do que tudo,
sem nunca eu lá ter ido,
Pousa-me as tuas mãos
sobre a minha cabeça.
Neste momento existes.
in- UM AMOR FELIZ ( DAVID MOURÃO-FERREIRA)
1989

segunda-feira, abril 21, 2008

Pátio Soalheiro

A pintura de Jackie Simmonds


O ENCONTRO...


Na soleira fria da porta
Por entre flores nacaradas e gotejantes
Vi-te chegar, como sempre...
Mulher feliz de sorrisos cúmplices
E olhos tamanhos, secos de sede fulgor.
***
A tua saia rodada florida
Fazia sombra na lage ocre rosada do tempo
E as floreiras cheias de zelo jardim
Caíam assimétricas da parreira secular
E dançavam a valsa da brisa nocturna
Enquanto eu te agarrava nas mãos
E matava o desejo de uma tarde fim de semana.
***
A noite cumpria o ritual lento no crepúsculo
E os grilos cumprimentavam a Lua...
Enquanto o coaxar de alguns anuros fazia eco
No escuro do ribeiro de limos verdes.
***
Dentro de casa, a lareira acesa por capricho
Crispava estalos marcados no compasso do fogo...
O encontro anuía-se, por olhares sóis de querer...
E perdia-se o tempo da vontade , pelo saber da hora.
A madeira velha das janelas vitral
Deitava um perfume de verniz velho...
Onde os teus cabelos encostavam e os teus dedos...
Simulavam a moldura do portão da herdade...
Com vontade de não sair.
***
A Lua pequena e matreira
Dizia-se loba e arrogante...
Com sopro de conselho, para olhar...
O último olhar acordado...
Enquanto o fumo da chaminé anunciava...
Silêncio...!!!
O Amor segreda-se!

in - POEMAS - (OUTONO)
2000

domingo, abril 20, 2008

Amor é...


***

Amor é...
Ficar à tua espera...
Até que a noite caia...
E a luz da minha vontade...
Ilumine o teu caminho !

in - Poemas (OUTONO) 2000