CENÁRIO - Sala semi-escura. Uma mesa e um candeeiro. Uma cadeira. Na parede frontal à boca de cena uma tela gigante a cores, de cinzentos esbatidos e um granulado prata, em fundo fotográfico de espinhos. Actor, sentado em posição angular para o público...escreve, com o queixo apoiado no punho esquerdo...
O som da escrita oriunda do aparo está ampliado...e, ouve-se um tema de piano em fundo. Entre cada parágrafo, o som de fundo deixa-se de ouvir.
- Acabei de ler o teu conto...e deu-me uma vontade de te partir a "CUCA"...aí sim ...partir no sentido de "escavacar", não de partir ...abandonar.
Serás capaz de deixar a medição de forças? Serás capaz de dizer-te...que "estúpida" sou? Serás capaz de entender que o gelo não conserva...retarda o desaparecer? Serás capaz de não dizer ....que fazes minhas as tuas palavras....de desalento e, que faças das tuas palavras, o mais puro canto d'amor...? Serás capaz ?
Desculpa a linguagem...mas apetece-me atropelar-te de abraços e beijos....e maltratar-te de carícias para te esvaíres no mais puro amor.
Amar....é "tramado"....difícil..."chato" por vezes. Por isso é puro! Serás capaz de entender, que pequenos grãos de areia....são rombos no casco...de uma vida? Serás capaz de entender que um mícron de bactéria...pode ser uma pandemia?
Serás capaz de utilizar a tua força, o teu interior o teu sentir e, na chama mais quente fazeres acreditar-me que és TUDO... menos o impossível?
Serás capaz de me partir, rasgar...fazeres-me sangrar de vontades, e depurares o nosso amor com o teu APEGO TOTAL?
Amor...confesso-me triste, desiludido...ferido ... Mata, por favor, esse vazio de ligeirezas ....com o teu "devaneio" ( aqui sim) TOTAL e, por assumir. Faz-me acreditar...faz-me sorrir....faz-me ser o SER mais feliz...e tu a maresia mais matinal ! OUSA ferir-me com amor...com alma sorriso....onde APENAS VIVAMOS NÓS. Não é utopia! Nem exagero! Nem onírico! Nem antiquado! Nem estúpido! Nem demolidor! Nem...
Amor....arrasa-me com a tua alma ...até ao meu grito de liberdade...porque extenuado....e, mesmo assim não me largues...como ave de rapina....que "rouba" o que lhe pertence...
Amor...faz-me amor...nem que o tenhas de fazer no acto mais desmiolado...mais apaixonado...mais sólido...mas único!
Amor...rouba-me....mete-me dentro de ti...grita-me paixão...e, certezas....não ligeirezas...isso, são factos que se cimentam, não acasos que se gostam...
Se me amas...até aos confins do amor....SÊ....mulher casulo e, alberga o meu aforro .
TEU, com uma raiva....que nem te conto!
Por isso, escrevo-te!
- Excerto de uma peça teatral
( que nunca mais acabo de escrever... )
"MONÓLOGOS DA MINHA ESCRITA"
by - José Luís OUTONO